Em
agosto de 2012 chegava
às livrarias , pela Cosac Naify : o livro
“Strange fruit — Billie Holiday e a biografia de uma canção”.
Considerada
a primeira canção de protesto explícito contra o racismo e
o linchamento de negros no Sul dos Estados Unidos, Strange fruit é
um poema metafórico que ilustra o modo como os negros eram mortos e
exibidos ao público: pendurados em galhos de árvores, como “frutos
estranhos”.
Em
setembro de 1998 o jornalista David Margolick publicou uma
reportagem na revista “Vanity Fair”a respeito da canção e três
anos depois, a matéria foi ampliada no livro.
O
autor investiga está peça emblemática do repertório de Billie
Holiday e para isso, reconstrói a história do nascimento da canção,
liquidando mitos criados até por sua intérprete oficial.
— Eu
queria esclarecer a informação sobre o autor da canção, porque
alguns mitos foram propagados pela Billie e pelas pessoas que
assinaram com ela a sua autobiografia (“Lady
sings the blues”) — diz o jornalista. — Eles
fabricaram a história de que ela a teria escrito após testemunhar
um linchamento.
Para
Margolick, não há dúvidas de que Abel Meeropol é o autor da letra
e da música. Homem branco e judeu progressista escrevia sob o
pseudônimo de Lewis Allan , tinha pouco mais de 30 anos quando
deparou com uma fotografia, publicada numa revista de direitos civis,
que estampava o linchamento de dois negros ocorrido em Indiana, em
1930. Abalado com a imagem, Meerepol escreveu o poema “Bitter
fruit” e mais tarde, em 1938, pisou à soleira do Café Society
para mostrar a Billie sua nova canção.
Billie
se apropriou da canção e fez dela um sucesso.
Margolick
comenta:
— Em
sua tristeza e tragédia, Billie Holiday passou a encarná-la.
— “Strange
fruit” foi escrita numa época em que as relações raciais nos EUA
eram muito precárias. Os linchamentos, apesar de terem diminuído,
não eram discutidos. Por isso, cantar aquela música foi um ato de
coragem.
Esta
pérola da musica mundial seria cantada por uma série de
interpretes, mas jamais seria superada pela gravação de Billie
Holiday. Ficou como um marco na sua carreira.
Neste
breve mas rico relato, Margolick nos abre uma janela para um mundo:
os Estados Unidos dos anos 30 e 40, um país dividido entre negros e
brancos, progressistas e retrógrados, no qual Holiday ousou levar o
terror do linchamento para dentro dos cafés e boates.